Há indícios de que a Itália não quer ficar alinhada com políticos golpistas, acusados de “espionagem” e de perseguir pessoas pretas
Carla Zambelli saca arma e ameaça a tirar num homem preto em São Paulo | Foto: Reprodução
Na Presidência de Michel Temer, do MDB, o Brasil extraditou para a Itália Cesare Battisti. Responsável por quatro assassinatos, ele foi condenado à prisão perpétua pela Justiça italiana. Agora, teria chegado a vez de o governo do país europeu retribuir.
O Supremo Tribunal Federal vai pedir a extradição da deputada licenciada Carla Zambelli — que fugiu para não ser presa —, por meio do Ministério da Justiça do Brasil, ao governo da Itália, que estaria propenso, acima de questões ideológicas, a acatar o pedido.
Supremo Tribunal Federal tem de pedir ao Ministério da Justiça que solicite a extradição da deputada Carla Zambelli às autoridades italianas | Foto: Divulgação
A primeira-ministra Giorgia Meloni, líder da direita italiana, teria decidido não proteger a suposta “aliada” ideológica. Até porque a brasileira entrou na Itália de maneira clandestina, sem se apresentar como possível exilada política. Ela foi para o país europeu para tentar escapar da Justiça brasileira, que a condenou à prisão e à perda do mandato.
Carla Zambelli — não se sabe orientada por quem — parece ter escolhido mal o país para se esconder. Afinal, a Itália está sempre pedindo extradições de criminosos mafiosos e, por isso, tende a não recusar pedidos de extradição.
Ao perceber que sua situação ficou ruim, ante as autoridades italianas, Carla Zambelli já estaria itindo que o governo de Giorgia Meloni vai autorizar a extradição. Mas antecipou sua estratégia: quer cumprir a pena na Itália, que não é o seu país de origem — de nascimento — e tampouco a nação na qual cometeu os crimes imputados pelo STF. A tendência é que seja extraditada e cumpra a pena no Brasil.
Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália, parece não ter interesse em proteger Carla Zambelli | Foto: Reprodução
O Brasil extraditou Cesare Battisti, que cumpre pena na Itália. O ex-jogador de futebol Robinho, acusado de estupro na Itália, cumpre pena num presídio brasileiro. Ficou no Brasil por ser brasileiro. Mas, acima de tudo, está preso — o que agradou as autoridades judiciais da Itália.
Advogados de Carla Zambelli estimam que o processo de extradição tende a durar de seis meses a um ano. Porém, com boa vontade do governo e da justiça italianos, a extradição poderá sair antes. Até porque, se extraditá-la rapidamente, o governo de Giorgia Meloni ará um recado ao mundo: a Itália não é valhacouto de criminosos internacionais.
Processo de extradição a pelo Ministério da Justiça
Para Carla Zambelli ser extraditada, o governo brasileiro, por meio do Ministério da Justiça, terá de enviar um pedido ao governo da Itália. A comunicação oficial é feita pelo Itamaraty ao governo italiano. Então, a Justiça italiana examinará a situação da deputada licenciada em duas instâncias. Perdendo, a defesa da política terá de recorrer à Corte de Cassação, última instância na Itália.
Carla Zambelli persegue um homem preto numa rua de São Paulo | Foto: Reprodução
Há conversas informais do governo brasileiro com autoridades da Itália. Nos bastidores conta-se o governo italiano está propenso a acatar o pedido de extradição. Por isso o bolsonarismo não estaria satisfeito com a pouca recepção da primeira-ministra Giorgia Meloni ao pleito de Carla Zambelli. Porque a decisão da Itália pode inclusive influenciar outros países ante fugitivos brasileiros.
Jair Bolsonaro, de origem italiana, por certo não fugiria para o país de Dante. Não se está dizendo que o ex-presidente vai escapar do Brasil, se condenado à prisão, e sim que, ante o caso concreto de Carla Zambelli, não tentaria ir para a Itália. Porque poderia ser extraditado. Proteção mesmo, até agora, só dos Estados Unidos.
A fuga de Carla Zambelli, possivelmente via Argentina, mostra que é muito fácil sair do Brasil sem ser incomodado pelo Polícia Federal. Por isso a rede que acobertou a fuga da deputada licenciada precisa ser desvendada. Porque cometeu um crime.
Carla Zambelli e Coronel Aginaldo de Oliveira: casados | Foto: Divulgação / Facebook
As imagens de Carla Zambelli correndo atrás de um homem negro, com uma arma na mão e fazendo mira, têm repercutido muito mal na Itália. A imagem de golpista e de suposta “espiã” — ao lado de um hacker — também depõe contra a deputada licenciada.
A Itália é governada por uma primeira-ministra de extrema direita, mas até agora permanece democrática. Por isso, a prisão de Carla Zambelli avizinha-se.
A fuga de Carla Zambelli pode ser agravada sua situação em relação à Justiça brasileira? É possível. Sua pena, 10 anos de prisão, é alta. Mas, no geral, cumpre-se menos tempo. O caso da fuga, significando desrespeito à Justiça, pode retardar a progressão da pena.
FONTE: JORNAL OPÇÃO
